Iluminação X Individuação

Por: Dra. Mariah Bressani

Perguntas: Ryath



1. Existe algum conhecimento dentro da psicologia que seja equivalente ou parecido com o que o Budismo chama de Nirvana, ou o Esoterismo de Ascensão? Ou que geralmente se chama de Iluminação? Como é esse conhecimento?
Fazendo um paralelo superficial entre a Psicologia e Budismo, consigo perceber uma correlação entre o processo analítico, de Jung, para autoconhecimento e a senda da Iluminação, proposta pelo Budismo.
Para Jung, a psicoterapia, como processo analítico, é a “ferramenta” usada com objetivo máximo chegar à Individuação.
Alcançar a Individuação é ter plena consciência de si mesmo, como indivíduo e ser humano. Enquanto que, para alcançar a Iluminação, o Budismo também tem suas “ferramentas”, como as Quatro Nobre Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo.




2. É possível que um psicólogo possa ajudar uma pessoa a conseguir a iluminação?
Aqui existem dois pontos importantes a se levar em conta:
Primeiro, para que um psicólogo possa ajudar uma pessoa a conseguir a iluminação se faz necessário que o profissional já tenha alcançado a iluminação (ou no mínimo, já esteja bem adiantado neste processo); pois, ninguém pode conduzir uma pessoa por um caminho que não conheça.
E, o segundo ponto (tão importante quanto o primeiro), também é preciso que o paciente queira seguir pelo caminho (processo) da iluminação.



3. Você já conheceu alguma pessoa que era iluminada? Como era essa pessoa?
Eu nunca conheci alguém iluminado, tendo como base o conceito de Iluminação do Budismo, pelo menos eu não o reconheci. Mas, já conheci pessoas com razoável discernimento e bom senso e que, em decorrência, tinham uma consciência sobre si mesmas e/ou sobre a vida um pouco acima da média; mas, mesmo assim, não posso dizer que fossem “pessoas iluminadas”.




4. Quais são as características das pessoas iluminadas?
Algumas características e pré-condições básicas para que seja possível se tornar uma pessoa iluminada:
⁃ Busca pela Verdade;
⁃ Trabalha continuamente o Autoconhecimento;
⁃ Tem compaixão por todo ser vivo;
⁃ Livre de crenças pessoais e/ou coletivas;
⁃ Livre de todo e qualquer apego (material, intelectual e emocional);
⁃ Reconhece o mundo, as situações, as pessoas e a si mesmo tais como o são (sem projeções e/ou expectativas);
⁃ Vive integralmente o momento presente.




5. O que você aconselha para quem deseja atingir o Nirvana?
Acredito que para atingir o Nirvana, a priori, é importante querer (obviamente) e seguir duas diretrizes básicas do Budismo e das antigas religiões é viver no “Aqui e Agora” e “seguir o Caminho do Meio”.
Viver no “Aqui e Agora” é compreender que o passado já passou e o futuro ainda não chegou. O que existe de fato (realisticamente!) é o que está acontecendo no presente momento.
“Seguir o Caminho do Meio” significa entender que somos seres duais: consciência/inconsciência, luz/sombra, matéria/espírito, corpo/mente, etc. Quando, por exemplo, nos voltamos em demasia para as necessidades da matéria, tendemos a ignorar as necessidades do espírito. Porém, se nos voltamos demais para as necessidades do espírito, geralmente negligenciamos as necessidades da matéria. Ou seja, “seguir o Caminho do Meio” é aprender a ter percepção de si mesmo e a arte da moderação emocional.
A partir de então, buscar estudar as diversas ferramentas do Budismo e aplicá-las no seu dia a dia.
E, principalmente, deve manter a determinação e a persistência no decorrer do processo, sabendo que é uma prática para todos dias e para toda a sua vida.




6. Existe alguma relação dos Tipos Psicológicos de Jung com o Nirvana ou com outra parte da Psicologia Analítica?
Jung apresenta os Tipos Psicológicos como características de percepção e de como a pessoa apreende e se relaciona com as suas realidades externa e interna. Podem servir como “ferramentas” no processo da autoconhecimento; pois, a partir do momento que a pessoa compreende o seu modo de funcionamento - Introvertido ou Extrovertido; Pensamento, Sentimento, Sensação ou Intuição -, isto pode ajudá-la no seu processo de autoconhecimento e que, consequentemente, facilitará sua jornada para alcançar o Nirvana.
Podemos fazer uma correlação significativa entre o Processo de Individuação, de Jung e o Processo de Iluminação, onde ambos são jornadas empreendidas com foco especifico para alcançar a Individuação e a Iluminação, respectivamente.
Na psicoterapia junguiana, por exemplo, tem a Função Transcendente - que é uma função da psique humana - que é ativada automaticamente, primeiro, com a confrontação dos conteúdos do inconsciente (recém descobertos) em relação aos conteúdos do consciente e, em seguida, ocorre a integração desses dois conteúdos, pois aquilo que antes era inconsciente (desconhecido), torna-se, agora, consciente (conhecido).




7. Você gostaria de complementar essa entrevista com alguma informação?
Sou psicóloga junguiana, ou seja, tenho como base teórica sobre o entendimento da psique humana a Psicologia Analítica, de C. G. Jung.
Acredito que, para que qualquer pessoa possa alcançar a Iluminação ou a Individuação, é fundamental que, antes de tudo, ela queira isto.
Esta é a base para tudo na vida: deve fazer parte de suas crenças e de seus valores, sendo assim, fará todo sentido fazê-lo.
Enfatizo que esta JORNADA, ou seja, este PROCESSO ocorre durante toda a sua vida e não por um pequeno período de tempo.




Referência bibliográfica
⁃ C. G. Jung - Tipos psicológicos, Obras completas, vol. VI
⁃ C. G. Jung - A natureza da psique, Obras completas, vol. VIII/2
⁃ Dr. Georges da Silva e Rita Homenko - Budismo - Psicologia do autodesenvolvimento

 

Gratidão Dra. Mariah

 

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